A meta de inflação no Brasil, definida anualmente, não deve ser reduzida abaixo de 3%. Isso já seria suficiente, e menos pode até ser prejudicial. Esta é a avaliação de economistas ouvidos pelo UOL. O CMN (Conselho Monetário Nacional) é quem define essa meta do IPCA (o índice “oficial” de preços), e haverá uma reunião em junho. Segundo esses especialistas, a tendência é parar de reduzir a meta, que vinha caindo há anos.
A percepção é de que os 3% estabelecidos para 2024 já são baixos o suficiente e serão repetidos no ano seguinte. Os especialistas avaliam que, desde que o sistema de metas de inflação foi adotado, em 1999, finalmente o Brasil tem um objetivo para o IPCA compatível com os dos demais países emergentes. Uma meta menor acabaria prejudicando a economia porque os juros teriam de ficar mais altos, o que afeta consumo, produção e emprego.
Integrado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, pelo secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o CMN é a instância do governo responsável por determinar as metas de inflação. Estabelecida a meta para cada ano, fica a cargo do BC cumprir o objetivo.
Assim, quando a inflação está muito elevada, como agora, o órgão aumenta a Selic (a taxa básica de juros da economia). Quando os preços não sobem tanto, o BC pode cortar juros. Atualmente, a Selic está em 11,75%, enquanto o IPCA em 12 meses até março está em 11,30%.
Quais são as metas atuais de inflação?
Esta dinâmica existe desde 1999, quando foi estabelecido, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o regime de metas de inflação. De lá para cá, o CMN vem diminuindo gradativamente a meta —que começou em 8% em 1999— para colocar a inflação brasileira em níveis semelhantes aos de economias emergentes que possuem equilíbrio econômico.
Em junho, o CMN se reúne para confirmar as metas dos dois anos seguintes e para definir o objetivo para três anos depois. Além de estabelecer a meta, o conselho define uma “banda” —que é uma espécie de margem de oscilação, para mais ou para menos, que a inflação pode ter.
No caso de 2022, por exemplo, a meta estabelecida é de 3,5%, mas a margem é de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta será cumprida pelo BC se a inflação ficar entre 2% e 5%. Os parâmetros atuais são os seguintes:
Metas de inflação
2022: 3,5% (margem de 1,5 ponto percentual)
2023: 3,25% (margem de 1,5 ponto percentual)
2024: 3% (margem de 1,5 ponto percentual)
Chegou a hora de parar?
Desde 2019 o CMN vem diminuindo em 0,25 ponto percentual a meta anual de inflação. Para economistas ouvidos pelo UOL, no entanto, pode ter chegado a hora de parar. Esta é a visão do economista Mauro Schneider, da MCM Consultores.
“O que deve levar o BC a manter a meta de 3% em 2025 é a ideia que existia, lá atrás, desde que foi criado o sistema de metas, de usar esta dinâmica para fazer com que a inflação no Brasil convergisse rumo à taxa média de países emergentes. Acredito que esta ideia permaneça válida e que o CMN vai manter os 3%.” – Mauro Schneider, economista da MCM
O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, também acredita na interrupção dos cortes da meta. Para ele, o CMN tende a manter o objetivo de inflação de 2025 em 3%.
“Acreditamos que o CMN seguirá, agora, com a meta de 3% de inflação. Isso porque este é o nível médio de inflação dos países emergentes.” – Flávio Serrano, economista-chefe da Greenbay
Custo para meta ainda menor seria alto, diz economista
O economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, afirma que o mais provável é que o CMN, de fato, mantenha a meta em 3% em 2025.
“Quando olhamos para outros países, vemos que os mais desenvolvidos têm uma meta em torno de 2% e os emergentes, em torno de 3%. A meta de 4,5% que tivemos lá atrás não era muito em linha com o que se vê nos emergentes”, afirma.
De 2005 a 2018, o CMN manteve a meta de inflação perseguida pelo BC em 4,5% — acima dos objetivos de países emergentes. Depois disso, foi estabelecida a dinâmica de cortes de 0,25 ponto percentual a cada ano, até que se chegasse à meta de 3% para 2024. Ir além disso, na visão de Salles, teria um custo para o país.
“Trazer a inflação mais para baixo tem um custo. O Banco Central teria que ser mais rígido em termos de juros, de crescimento da economia. Quando a meta estava em 4,5%, havia um benefício grande para começar a baixar, porque a referência no Brasil era grande em relação a países parecidos com o nosso. Hoje, já estamos com inflação mais próxima à dos emergentes.” – Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank
Na prática, ao estabelecer uma meta abaixo de 3%, o CMN poderia forçar o BC a manter a Selic em patamares mais elevados —o que representaria um ganho pequeno em matéria de controle de preços e, por outro lado, puniria a atividade econômica. Isso porque juros mais altos significam menos crédito, menos investimentos e, no limite, menos empregos.
Necessidade de controlar a inflação
Em 2021, com a pandemia de covid-19, a inflação brasileira ficou em 10,06%, bem acima da meta de 3,75%. Em 2022, ainda sob os efeitos da pandemia e com a guerra entre Rússia e Ucrânia, a tendência é de que, novamente, a inflação fique acima do objetivo perseguido pelo BC.
Para os economistas ouvidos pela reportagem, porém, o fato de o IPCA ficar acima da meta por dois anos não significa que o país deva estabelecer, como objetivo, uma inflação mais elevada.
“Pelo contrário. Nós só vamos ter uma inflação baixa se perseguirmos uma inflação baixa”, defende Flávio Serrano, da Greenbay Investimentos.
Salles, do C6 Bank, segue o mesmo raciocínio. “Um dos motivos pelos quais tivemos um pouco de dificuldade para controlar a inflação é porque convivemos com uma meta elevada. A decisão lá atrás, de baixar a meta de 4,5% até 3%, foi acertada”, defende.
Banco Central
O UOL pediu ao Banco Central que se pronunciasse sobre as metas de inflação. O órgão foi questionado sobre sua visão para a meta após 2024 e se haveria uma inflação considerada ideal para um país emergente como o Brasil. O BC informou que não iria comentar.
FONTE: UOL Notícias